POR Luciana Coelho
WASHINGTON - Barack Obama se tornou, na tarde de ontem, o primeiro presidente dos EUA a apoiar abertamente e com todas as letras o casamento gay.
Na verdade, o
democrata foi um pouco além. Depois de fazer a declaração numa entrevista, Obama
enviou um email a seus seguidores exortando-os a se unirem em coro, caso
partilhassem de sua crença de que um casamento entre dois homens ou entre duas
mulheres deveria ter tanta validade legal quanto aquele entre um homem e uma
mulher. Bastava assinar. É uma campanha.
Obama não vai alterar a lei americana para permitir o
matrimônio, o que seria virtualmente impossível em um país em que cada Estado
tem o arbítrio sobre sua legislação a esse respeito e que precisaria do aval do
Congresso e, eventualmente, da Suprema Corte. (Ou alguém tem dúvida de que uma
decisão assim seria contestada? A Carolina do Norte anteontem aprovou por
plebiscito uma emenda que veta o casamento gay mesmo que ele nunca tenha sido
permitido no Estado, só por precaução.)
Mas o apoio explícito
de um presidente à causa conta um bocado. Na véspera, uma pesquisa do Gallup
apontara que 50% dos americanos adultos acham que o casamento homossexual
deve ser legalmente válido. O número vem crescendo paulatinamente, conforme as
gerações nascidas a partir dos anos 70 vão se tornando adultas. Entre os
americanos mais jovens, o apoio é alto mesmo entre aqueles mais religiosos.
Por que? Porque as gerações na casa dos 30 e muitos e as mais
jovens, cada vez mais, foram acostumadas a ver casais gays. Os adolescentes de
hoje nos EUA (e no Brasil também) muitas vezes têm amigos criados por dois pais
ou duas mães. E acham isso normal.
“Eu sempre acreditei que os americanos gays e as americanas
lésbicas deveriam ser tratados com igualdade e justiça. Estava relutante em usar
o termo casamento por conta das tradições tão poderosas que ele evoca. Achava
que as leis de união civil que conferiam direitos legais aos casais gays eram
uma solução”, escreve o presidente no email.
“Mas, ao longo dos anos, falei com amigos e parentes sobre
isso. Pensei nos funcionários da minha equipe que têm relações longas,
compromisso, com alguém do mesmo sexo e que estão criando seus filhos com esses
parceiros. Percebi que, para casais do mesmo sexo que se amam, a negação da
igualdade no casamento significa que, a seu ver e aos olhos de seus filhos, eles
ainda são cidadãos incompletos.”
“Mesmo na minha mesa de jantar, quando olho para Sasha e Malia,
que têm amigos filhos de casais do mesmo sexo, sei que não faria sentido para
elas que os pais de seus amigos fossem tratados de forma diferente.”
E, antes de assinar, diz respeitar a crença alheia e o direito
das instituições religiosas de agir de acordo com suas próprias doutrinas — mas,
que aos olhos da lei, os americanos deveriam ser tratados todos de forma igual.
“E quando os Estados permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, nenhuma
lei estadual deveria invalidá-lo.”
Ha vários recados na mensagem do Obama. Um é a clara disposição
contra a proposta de emenda constitucional que define o casamento como a união
entre um homem e uma mulher, defendida pelos ativistas anticasamento gay como
uma forma de inviabilizar a união.
Outra é uma estocada
em Mitt Romney, seu adversário — e um fã confesso da série “Modern Family”, que
tem entre seus protagonistas um feliz casal gay pais de uma meininha, ao menos
segundo o “New York Times”.
A declaração de Obama
veio depois da de seu vice, Joe Biden, e da de seu secretário da Educação, Arne
Duncan, na mesma linha. E a declaração dos dois veio depois da notícia de que a
campanha de Romney havia demitido um de seus principais assessores, Richard Grenell,
porque ele é gay. (Sério, isso ainda acontece? demitir por conta da orientação
sexual?)
Ok, há um monte de gays que não querem casar — assim como há um
monte de héteros que estão se lixando para a oficialização. Os jornais
americanos já fizeram inclusive reportagens ironizando as hordas de mães de gays
que agora cobram seus filhos “quando é a data mesmo?”, quando muitos deles não
fazem questão de institucionalizar a união.
Mas os que querem devem ter o direito.
Eu gostaria que meus amigos gays no Brasil pudessem, se
quisessem, legalmente chamar suas uniões de casamento. Eu gostaria que os casais
gays que desejam adotar não precisassem inventar histórias estapafúrdias ou
depender com a comiseração de juízes. E eu gostaria que mais políticos tivessem
a coragem que Obama teve.
Sim, Obama tem dado muitas, muitíssimas bolas fora. Mas, nesta
quarta, ele deu uma dentro.http://eleicaonoseua.blogfolha.uol.com.br/2012/05/10/495/
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